Como
representação que é, o dinheiro não se pretende uma realidade em si, é antes
metáfora de riqueza. Como sabemos por Marx, riqueza é sempre um derivado do
trabalho, ou da natureza: riqueza acumulada pela propriedade de um meio de
produção, de um conjunto de esforços, da pesca. Quem fez dinheiro com a soja,
com seu trabalho de médico, com a exploração do trabalho escravo nas Antilhas,
com a venda de pau Brasil ou mogno na Europa, fez sempre seu dinheiro partindo
do meio natural, ou do trabalho.
E neste sentido, o dinheiro representa energia: quando vindo
do trabalho, a derivada de um estudo, de um trabalho braçal. Quando vindo do
meio natural (pesca, extrativismo, soja), a energia do sol, em última
instância. E mesmo a energia do trabalho e do conhecimento deriva dos
alimentos, que também traz sua energia acumulada do sol.
Está certo resumir portanto que todo dinheiro é energia do
sol representada: seja pelo trabalho, seja por representar o meio natural, o
dinheiro é acúmulo de natureza, uma apropriação do mundo natural que se
armazena. O sol é um quanto de sol apropriado, um cercamento de um quanto de
energia do qual sinto que possa me apropriar. E guardar, e legar, mesmo que não
vá usar diretamente comigo esse tanto.
O presente colapso climático e ecológico é uma ameaça a
sobrevivência e tem suas raízes no modelo de consumo de supérfluos e de uma
produção muito sofisticada, voltada para conjuntos grandes de consumidores
enriquecidos. O exagero de uso dos meios naturais, além do uso que seria necessário
apenas para uma sobrevivência frugal, apenas para atender nossas necessidades
básicas, explica a eminente derrocada da vida na terra.
Apenas extinguindo o conceito de dinheiro será possível
brecar o colapso climático. Por ser possível um único indivíduo acumular mais
energia e meio natural que consiga usar para atender suas necessidades básicas,
o dinheiro é uma imoralidade climática, uma impossibilidade ecológica. Não é
sustentável em uma sociedade ameaçada de extinção. Também não é justo que essa
extinção decorra da vontade esganada de alguns dos seus membros de se
apropriarem de mais insumos naturais e energéticos que possa consumir pra si. O
aquecimento global é uma decorrência da vontade de viver nababescamente dos
ricos, e dos próximos dos ricos. Estes indivíduos acumuladores de energia devem
ser desestimulados a seguirem acumulando mais natureza que o planeta possa
produzir, pois seus maus hábitos (ter um carro de mais 100 mil reais) podem
significar o fim de todos nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário