domingo, 14 de dezembro de 2014

A Reforma Política de Bill Gates



    Existe uma reação usual das pessoas quando se sugere uma melhoria qualquer do sistema político, que é a idéia de que isso não será possível. Curiosamente os avanços de informática e de rede permitiriam novos e esplêndidos modelos de mais participação direta e menos sistema representativo, mas estamos como que presos ao método eleitoral do século XVIII, o do papel na urna. Uma reforma política no Brasil será tanto melhor quanto mais diminuir a força da representação em favor de maior participação direta. E a informática permite grande avanço nesse sentido.
    Mas se alinhavar ideias tecnologicamente simples de recall e de eleições constantes a todo momento é, para muitos, um exercício delirante de bar, devemos pensar que Bill Gattes teria muita facilidade técnica de implementar uma democracia muito melhor no Brasil. E o que Bill Gates poderia fazer pelo modelo eleitoral para desintoxica-lo dos vícios atuais?
    Uma reforma política progressista no Brasil tem que endereçar o patrimonialismo, a influência exagerada do capital sobre o poder político e o exagero de poder sem mais satisfação do modelo representativo.
    Antes de mais nada um judiciário desaparelhado, seja o STF ou o TSE. Com o Toffoli, sem transparência, autonomia, não há eleição de confiança. Todos os atores políticos fiscalizando o processo, pois o Estado sendo o fiscal já vimos que é perigoso. Quem vai tomar conta do PC do TSE é um primeiro e não pequeno ponto dessa reforma.
    Um aspecto simples de implementar é o recall de voto emprestado. Junto com eleição constante, teríamos um controle muito mais preciso do eleitor sobre o seu deputado ou mesmo governador, prefeito, presidente. Para deputados seria mais simples. Caixas eletrônicos nas sedes dos distritos eleitorais estariam constantemente disponível e a todo momento seria possível tirar o voto dado para um sujeito e passa-lo para outro sujeito.
    O sigilo/confiabilidade é tão simples de manter como nossa senha em caixa automático de tirar dinheiro. Com um titulo eleitoral magnético e uma senha podemos diariamente mudar o cenário político, conforme nosso gosto com o que o representante esta fazendo.
    Deputados estariam constantemente caindo e subindo, sempre que não fossem votar como seus eleitores desejem. Não haveria mais eleição geral, num momento único, e sim uma eleição constante.
    Isso nos livraria das “campanhas”, essa entidade que favorece tanto o marketing e desfavorece o debate das idéias. As campanhas seriam proibidas, em favor de mais razão e menos emoção. Cada político teria um curriculum lattes obrigatório com toda sua ficha: haveria quesitos criminais, processos, como votou em cada tema, quem fez donativos pra esse deputado. Todo o modelo iria priorizar mais o curriculum, o que fez no passado, do que diz que faria no futuro. O voto nesse político só seria possível depois que o eleitor lesse todo seu curriculum, o PC não deixaria votar sem uma leitura de mais de duas horas do lattes do candidato.
    Num modelo mais avançado poderíamos estar constantemente votando cada tema: código florestal, lei da responsabilidade fiscal. Um método participativo, mesmo de PC domésticos, não é uma aberração tecnológica delirante. Basta ser seguro, como já é uma compra na Amazon, por exemplo.
    SE não tivesse participação direta, pelo menos indireta, com mais consulta do gosto dos eleitores. Os deputados iriam ser obrigados a fazer enquetes com seus eleitores de todos os grandes temas que irão votar. Essa enquete é consultiva, mas ele pode perder seu mandato distrital caso desagrade seu curral eleitoral. Enquete simples de fazer via facebook, ou algum método mais confiável.
    Uma outra ideia seria votar em qualquer pessoa, não haveriam “candidatos”, sendo que todo mundo pode ser votado. Um conjunto maior de votos em uma pessoa lembrada e ela seria perguntada se aceitaria seus votos. Reeleição jamais. 
    Como pessoas que votam errado são um fenômeno ruim para a democracia, seria interessante diminuir sua influência: caso o candidato que você votou for processado e condenado por improbidade, você eleitor fica dois anos proibido de votar, como uma forma de punição.
    Reformas desse tipo são tecnicamente possíveis e podem melhorar nossa relação com a política, diminuído a influência do marketing sobre as eleições. Uma segunda frente de mudanças que precisam ser implementadas  é mais no sentido de mais rigor nas punições dos políticos corruptos.
    Uma lei importante nesse sentido é que o juiz do STF que julgue um político por improbidade será sempre escolhido pelo partido adversário. Um juiz apenas, um conjunto de deputados de júri? Uma reforma política sem reformar quem escolhe os juízes do STF e do TSE não seria efetiva: é importante mudar também esse perigoso modelo atual de 10 em 12 juízes do STF serem indicados por um partido apenas. O político preso por improbidade só começaria a contar seu tempo de pena após devolver todo o dinheiro desviado. 
    Por fim, e algo não diretamente correlato, seria como endereçar o patrimonialismo que tanto vigarista atrai para a política. O estado precisa ser menos político e todo ele mais técnico. Todo o SUS, ou o sistema de educação precisariam ser profissionais, não coordenado por políticos. Diminuir o tamanho da influência e do poder dos políticos é algo que pode impactar para melhor nosso modelo de democracia.


domingo, 16 de novembro de 2014

Todo dinheiro vem do sol e só salvamos o planeta proibindo o acúmulo de dinheiro


 
Como representação que é, o dinheiro não se pretende uma realidade em si, é antes metáfora de riqueza. Como sabemos por Marx, riqueza é sempre um derivado do trabalho, ou da natureza: riqueza acumulada pela propriedade de um meio de produção, de um conjunto de esforços, da pesca. Quem fez dinheiro com a soja, com seu trabalho de médico, com a exploração do trabalho escravo nas Antilhas, com a venda de pau Brasil ou mogno na Europa, fez sempre seu dinheiro partindo do meio natural, ou do trabalho.

         E neste sentido, o dinheiro representa energia: quando vindo do trabalho, a derivada de um estudo, de um trabalho braçal. Quando vindo do meio natural (pesca, extrativismo, soja), a energia do sol, em última instância. E mesmo a energia do trabalho e do conhecimento deriva dos alimentos, que também traz sua energia acumulada do sol.

         Está certo resumir portanto que todo dinheiro é energia do sol representada: seja pelo trabalho, seja por representar o meio natural, o dinheiro é acúmulo de natureza, uma apropriação do mundo natural que se armazena. O sol é um quanto de sol apropriado, um cercamento de um quanto de energia do qual sinto que possa me apropriar. E guardar, e legar, mesmo que não vá usar diretamente comigo esse tanto.

         O presente colapso climático e ecológico é uma ameaça a sobrevivência e tem suas raízes no modelo de consumo de supérfluos e de uma produção muito sofisticada, voltada para conjuntos grandes de consumidores enriquecidos. O exagero de uso dos meios naturais, além do uso que seria necessário apenas para uma sobrevivência frugal, apenas para atender nossas necessidades básicas, explica a eminente derrocada da vida na terra.

         Apenas extinguindo o conceito de dinheiro será possível brecar o colapso climático. Por ser possível um único indivíduo acumular mais energia e meio natural que consiga usar para atender suas necessidades básicas, o dinheiro é uma imoralidade climática, uma impossibilidade ecológica. Não é sustentável em uma sociedade ameaçada de extinção. Também não é justo que essa extinção decorra da vontade esganada de alguns dos seus membros de se apropriarem de mais insumos naturais e energéticos que possa consumir pra si. O aquecimento global é uma decorrência da vontade de viver nababescamente dos ricos, e dos próximos dos ricos. Estes indivíduos acumuladores de energia devem ser desestimulados a seguirem acumulando mais natureza que o planeta possa produzir, pois seus maus hábitos (ter um carro de mais 100 mil reais) podem significar o fim de todos nós.

Legalizar as drogas?

Legalizar as drogas?

Uma sra que não conheço milita no twitter pela legalização das drogas. O que ela pensa, como argumenta é possível de ser visto nos diálogos abaixo, recorta e cola do twitter. A conta twitter @fmfx (Flávio Xavier) é a minha. O twitter que atende pelo nome de Lucélia é dessa senhora, que tem os seguintes argumentos para legalizar a droga no país. Esse diálogo tem frases curtas por imposição do twitter. É um diálogo felizmente inacabado e não foi mantido para ser lido publicamente. Mas achei que poderia interessar a mais pessoas.


Lucélia Já pensou que a sua moral pode não se aplicar à outras pessoas? Ou falamos cientificamente ou não falamos...

@FMFX e meu problema com o descerebrado que faz racha obviamente não é com ele (moral), é egoistamente comigo (ser atropelado)

Lucelia Sinceramente não entendo seus argumentos: "descerebrado que faz racha"??? O problema daí não é o racha? Isso não tem nada com a moral.

@FMFX argumento: teu livre direito de dirigir à 170 km/h esbarra no meu direito de não ser atropelado: tua liberdade ( de cheirar)

@FMFX não é exatamente uma questão só tua, se tu -por exemplo no trânsito- atropela todos num bar de calçada

@FMFX pois o teu cocainomano assalta, mata, rouba carro, financia o STF. Ele não é glamuroso e um problema pra si, apenas.


Lucelia Vc tem que entender que a grande maioria das pessoas que usam drogas lícitas ou ilícitas não se torna um dependente problemático.

@FMFX vc precisa entender que todo aquele que é um problemático, entrou no labirinto pela porta do uso recreativo, não tem outra

@FMFX nosso tema tem um enfoque jurídico: legalizar uso de rojão em boates pois na imensa maioria dos casos nada grave acontece

@FMFX se tu pegar um tambor de 6 vagas para bala e só uma tiver uma bala, o risco de um dano grave da roleta russa não passa de 16%

@FMFX a prática de roleta russa, por terminar em 85% das vezes bem, deve ser legal e indicada nas escolas, inclusive para tua filha?

Lucelia Deputado (@OsmarTerra), nem todo mundo que usa se transforma em um transtornado. Impedir o uso é moralismo.

Lucelia Então, vamos proibir tudo que resolvemos o problema???

@FMFX proibir não resolve nada de fato. Mas liberar, "resolve"?

Lucelia: Regular resolve, não liberar. Regular, educar e tratar dos dependentes resolve.

@FMFX nesta república das boas idéias e de qualquer ação, temos regulação de aviação, telefonia, remédios: com o PT, nada funcionou

Lucelia Já pensou que a sua moral pode não se aplicar à outras pessoas? Ou falamos cientificamente ou não falamos...

@FMFX sua "ciencia", é uma certa ciência, a das estatística: seu filho drogado é para outro ramo da ciência, a medicina

Lucelia Vc tem que entender que a grande maioria das pessoas que usam drogas lícitas ou ilícitas não se torna um dependente problemático.

Lucelia minha filha, isto é uma platitude. O nosso ponto é, legalizar?


@FMFX vc precisa entender que todo aquele que é um problemático, entrou no labirinto pela porta do uso recreativo, não tem outra


@FMFX nosso tema tem um enfoque jurídico: legalizar uso de rojão em boates pois na imensa maioria dos casos nada grave acontece


Lucelia sem pensar nas consequências nefastas da proibição. Mais nefastas que o próprio uso das drogas.


Lucelia Pois está entendido. Vc não respeita a liberdade das pessoas. Prefere proibir os comportamentos que vc acha danoso, sem pensar...

Lucelia Flávio,quando eu digo que nem todo usuário se torna um transtornado, estou falando de menos de 20%. E o álcool?

@FMFX tu tem muito sentimento por percentual. Droga é doença, doença de individuos, unitários, tragédia, como a Kiss

Lucelia Flávio, vc é muito alarmista e moralista. Toda a sociedade usa drogas. Conforme-se

@FMFXconformar-se é diferente de chancelar juridicamente: entendo que jovens façam racha, mas "legalizar" o racha é diferente

Lucelia Vc fica comparando o uso de drogas com outras atitudes muito mais abstratamente e concretamente perigosas. Vamos falar sobre drogas?

Lucelia Saiba que existem milhares de usuários de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, que vivem suas vidas normalmente, sem estorvar,

@FMFX mas o fazem com liberdade de escolha, justamente esta liberdade que a droga vai tirando dela

Lucelia Quando digo que vc é um moralista é porque vc não vê a possibilidade das pessoas usarem drogas sem se tornarem seres problemáticos.

@FMFX ah, neste sentido. Mas falar de mudar uma lei é sempre uma discussão indesejavelmente moral, não?

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Qual a moral da maconha?

 QUAL A MORAL DA MACONHA?


Os estupros no Brasil cresceram 18% no ano de 2012 (http://www.revistaforum.com.br/blog/2013/11/casos-de-estupros-crescem-18-no-pais/ ). Na Índia também, o que é intrigante (http://www.alem-mar.org/noticias/EFVlukFyuyaxEycDSL.html ) dada as diferenças entre os dois países, e também dadas as semelhanças. Sociedades que mudam de rurais pra urbanas muito rapidamente, que abandonam o seu passado moral para uma nova moral mais do consumo e do prazer sem consequências, mais egoísta? O enriquecimento dos emergentes tem conexão com essa imoralidade? De qualquer forma, não acredito que ninguém tenha dificuldades de concordar que o interdito ao estupro é um interdito “moral”.
O fato de o estupro estar sendo mal reprimido pelas forças jurídico/policias, contudo, não leva ninguém a pedir a sua “legalização”. Na discussão da “legalização” da droga muito se fala que deve ser liberada pois a guerra ao tráfico falhou. Mas a guerra a violência sexual também falhou, e felizmente ninguém pensa em afrouxar a legislação sobre o tema.
O argumento de ineficiência da guerra tem que ser melhor visto. Países desenvolvidos gastam fortunas e Nova York tem uma política de sucesso na diminuição do consumo de crack. (http://veja.abril.com.br/noticia/saude/nova-york-tambem-teve-sua-cracolandia-e-conseguiu-acabar-com-ela ). É baseada muito na repressão e na polícia, ainda que não só, o que poderia explicar seu sucesso. No Brasil a política de combate de drogas é um fiasco, como de resto qualquer política pública, todas elas. Então não vale como argumento, temos um estado charlatão: o que ele se propõe a fazer, faz mais marketing que ação, e faz mal o que for: cadeias, hospitais, políticas de saúde mental antigas ou alternativas, albergues para mendigos. Aqui é o que li outro dia como o fim do estado no imperativo do marketing.
Mas o ponto nem é quais políticas públicas são eficientes, qual estado vai melhor no combate da epidemia de crack, ou de que droga for. O ponto é que não existe legislação, seja permitindo, seja criminalizando, que não tenha antes um juízo moral. Legalizar é decorrente de um juízo moral e criminalizar é decorrente de um juízo moral. Exatamente como no caso do estupro, do aborto. E de uma moral média, obviamente que não de uma moral de cada um. Caso contrário, se eu tenho um apetite sexual um pouco maior, minha moral me permitiria, pelo óbvio, avanços maiores sobre o corpo dos outros, “pois eu tenho minha moral sobre o tema do sexo”.
Médicos não são chamados a legislar. A medicina pode informar sobre o malefício do colesterol e sobre os números de epidemia da obesidade infantil, mas não deve e não lhe toca propor uma lei que proíba alimentos gordurosos ou doces nas cantinas escolares. Obviamente que um endocrinologista infantil não vai falar no Jornal do Almoço bem de legalizar o “baiconzitos” na cantina do colégio Anchieta. A sociedade, e não os médicos,  é que deve se entender sobre o tema.
Mas claro que a saúde é um tema moral, não de um higenismo regulador dos médicos, perseguindo fumantes ou obesos. Mas viver mais é uma coisa boa, e morrer alcoolista é uma coisa moralmente ruim. O que os legalizacionistas estão propondo é uma discussão jurídica sem passar pela discussão prévia moral. Pelo fato de a moral ser obviamente pessoal, é como se cada um faça o que bem entender. Esse “liberalismo” esta a serviço de não discutir as seguintes perguntas éticas: “fumar maconha é bom?”. “Até onde consigo ser recreativo sem me tornar dependente?” “Me tornar um dependente químico é certo/bom para comigo?” “Devo correr riscos de dependência, que é um risco evitável se eu não fizer uso recreativo?” “O prazer é uma verdade em si mesma, independente das consequências de transar sem camisinha?” “Fodam-se as consequências?”.
E a discussão moral de usar drogas é um tema de difícil abordagem, em especial pois a moral é diferente conforme o usuário seja recreativo, conforme seja dependente. Na verdade, o sentido moral de um baseado, é mesmo o oposto na mão de um usuário recreativo do que na mão de um usuário dependente. Um mesmo copo de cerveja é uma arma para o segundo, e uma bela diversão para o primeiro. Mesmo um vídeo-game, na mão de um usuário dependente é um problema, e não existe qualquer legislação que proíba o uso de video-games.
Aí reside a grande confusão moral do tema: para um recreativo, a droga é uma liberdade e uma opção. Seus valores morais sobre liberdade e diversão são muito prós. Também a sociedade mais moderna é muito favorável tanto a liberdade quanto ao prazer. Eu diria que um pouco favorável demais ao prazer, uma sociedade inebriada e que cultua o prazer como a única verdade. Mas favorável.
Já o dependente químico o que perde, como o nome está dizendo, é a liberdade. A doença é justamente a perda da liberdade. Não acho que muitas pessoas estão dispostas a achar moralmente certo a doença da drogadição: ela costuma nos causar estarrecimento e horror. Acho que a maioria das pessoas está disposta a ser firme com um dependente no sentido de não ter acesso a droga, inclusive a vítima. Vi um sujeito que vive fazem 4 anos em uma fazenda religiosa, ele tem 60 anos e veio me pedir um atestado de incapacidade permanente. Ele me contou sua vida: nem eu, nem eles temos dúvida de que ele tem uma incapacidade permanente com sua liberdade de ir e vir. A história do sujeito morto no parlamento do Canadá outro dia repete novamente essa dificuldade que é a liberdade para um dependente pesado.  
O ponto complicado de legislar sobre droga é que o primeiro sujeito, o estudante de humanas com suas certezas denuncistas sobre a falência do modelo de repressão às drogas e que fuma no final do dia um baseado, e o segundo senhor de 60 anos não são o mesmo sujeito. Ou pelo menos 40 anos os separam, se forem o mesmo, mas concordo que não são. Portanto a repressão e o paternalismo jurídico é um absurdo com nosso jovem, e uma necessidade com nosso velho.
Deve a legislação universalizar os cuidados para quem precisa e para quem não precisa, de forma igual? Um primeiro ponto é que o jovem não se transformaria no velho se fosse um não usuário. Mas e todos que usam recreativamente e não ficam dependentes? No caso da maconha, 80% dos usuários diários de um baseado não são dependentes da droga. Mas 20% o são. E sair dessa dependência é uma coisa muito penosa e de pouca chance de êxito. Como num labirinto, é muito fácil e depende do livre arbítrio entrar, mas não sair.
Acredito que a legislação, portanto a discussão moral que antecede a decisão de legalizar ou criminalizar, deve se ater no dependente. O estado não tem que ter leis para o usuário recreativo. Para o dependente a proibição é o certo, já que ele por ele, não consegue parar e, como já vi, morre. Quando formos falar em moral do uso de drogas, temos que falar do uso dos dependentes apenas. A lei será para eles, que nem são tão poucos: um percentual de 10% dos homens são alcoolistas. E nesse setting da dependência a repressão e proibição é o moralmente mais correto. Uma grade na janela para uma pessoa que não pensa em se jogar pela janela é uma coisa indiferente. Para um suicida, salva sua vida. Não consigo imaginar, se tenho um parente/paciente com risco de suicídio, o “liberalismo” de um quarto sem grades, em que ele “escolha” o que deseja fazer.  Isso não seria apenas “errado”, seria maldade. No caso do médico, seria um má práxis, um erro médico, ele perderia seu diploma, pelo menos nos EUA onde isso é cuidado melhor.
Por fim, não estamos discutindo criminalizar a droga, pois isso ela já o é. Estamos discutindo legalizar seu consumo. Do ponto de vista moral, portanto, a pergunta anterior a legislar é: “no contexto de um país com uma epidemia de drogas, a oferta hoje não livre de entorpecentes para os dependentes, deve ser oficialmente mudada para ad libitum?” (considerando que o ad libitum aqui é morrer). Acho que isso não é muito humano nem nada moral. Acho que isso é um crime, mas quem tem que achar é o povo que vai votar um referendum sobre a legalização das drogas, ou seus representantes no legislativo.

Como assim "narrativas"?


A academia é um mundo incrível! Falando à rádio BandNewsFM sobre o conflito Hamas X Israel, um professor da Universidade Pública UFRJ, professor Michel Gherman, nos diz que entre os dois lados da contenda, tudo são “narrativas”. Quem não o escutou no rádio, pode pegar as idéias principais em um artigo escrito pelo acadêmico no seguinte link (http://coletivojudaico.wordpress.com/2013/10/10/conflito-israelo-palestino-e-de-narrativas-historicas-nao-de-essencias-diz-michel-gherman-no-ciclo-israel-e-o-mundo-em-sao-paulo/)  Abaixo, para que fique evidente os conflitos de interesse do pesquisador, cito seu curriculum(1), o que apenas nos sugere que sua aparente imparcialidade ("os dois lados fizeram o mesmo"), estranha imparcialidade para um tema de" genocídio", é fruto de sua visão pró Israel do conflito. Perguntado pela entrevistadora sobre juízos de valores diante da ação de Israel, o professor responde com a charmosa idéia de que não cabem juízos de valores, que “tudo são narrativas, com sua lógica particular, ambas narrativas corretas, tanto a do Hamas, quanto a de Israel, e que apenas são narrativas excludentes, porém ambas correta”.

Mas a indignação da comunidade internacional, incluindo uma inédita e bem vinda posição de nossa presidente, referente principalmente a morte de 400 (data de 9 de agosto de 2014) crianças palestinas, seria por causa de uma narrativa? É moda essa postura da academia, e também da política, de reduzir, confundir, ação e “narrativa”. Também é uma tentação, imaginar que “narrativas” estariam a salvo de juízos de valor. Não podemos ser contra um conto de Poe, uma narrativa, que está protegida de julgamentos: um conto de Poe é uma ficção.  

O projeto acadêmico é claro: se de narrativas corretas se tratam as posições de Israel e do Hamas, sua parte “real” é negada, suas ações objetivas sobre a realidade, é menos “objetiva”. O que estamos enfrentando com esta fase do pensamento nacional, um movimento "narrativista", um pensamento não restrito ao ponto desta abominável ação Israelense, é mais grave: é uma suspenção da realidade. E sem a "realidade", uma decorrente suspenção da moral e do juízo de valor, já que sobre “irrealidades” narrativas não cabem julgamentos, uma vez que “nem se sabe se existiram as condutas”. Onde o real é ficção, o julgamento já não cabe. O fim do "real", traz também em si a obsolência da moral. Se estamos vivendo narrativas, tudo é opinião.

Não sou dos que me inclino a concordar com o projeto. Vemos o mesmo projeto na boca dos governistas: “malfeitos” como o mensalão já não são mais delitos transitados em julgados, e portanto “fatos”: antes são versões da PIG interessada em não deixar uma administração “popular” mudar o país. A narrativa de Lula, é que um dia poderá mostrar a “farsa” do julgamento do mensalão.  

Acredito que existam narrativas, mas também acredito na realidade, no juízo de valor, e sobretudo na diferença importante entre ato e idéia. O nazismo, para voltar ao primeiro campo, é sim uma narrativa. Que não caibam juízos de valor, julgamentos éticos ou proibições da difusão de ideias nazistas é discutível, mas já devidamente tipificado em nossas rotinas jurídicas. Mas escrevo essa carta ao professor Michel para lhe fazer uma outra pergunta que me inquietou todo o tempo que escutei sua entrevista: se a matança de crianças que o estado de Israel promoveu em julho em Gaza é apenas “uma narrativa”, o que o senhor diria que foi o Holocausto judeu? Outra narrativa? O senhor chega a perceber o quanto o sr se parece, provavelmente sem desejar, com Ahmadinejad – presidente do Irã que dizia que o holocausto é um discurso- com esse seu “momentoso” embrulho empulhador das “narrativas”?

Quanto a impossibilidade de julgar narrativas, de fazer um julgamento moral dos discursos “corretos em si”, também aproveito para lhe dizer que um pedófilo, com seus atos inquestionavelmente censurados pela moral corrente, tem lá, no seu computador e na sua mente, todo um conjunto de “narrativas”, o que não vai impedir o agente da Polícia Federal de prende-lo.  Nem sei se no Brasil só é possível prender um pedófilo apenas pelos seus atos ou, como vimos no Reino Unido em Junho, se é possível prende-lo também pelas suas "narrativas" armazenadas no computador. É uma outra discussão se já podemos prender “narradores”, ou apenas podemos prender “atores” de atos abomináveis, contudo. Nosso tema é que narrativas são narrativas, e assassinatos precisam ser algo mais que narrativas, pela segurança do nosso contrato social.

 Felizmente o judiciário não escutou apenas narrativas dos petistas injustiçados e prendeu atores do mensalão na Papuda. Passar o resto da vida esbravejando contra essa “mentira” é sim um direito do preso, mas não do juiz.  O lugar de certas narrativas (como a da pedofilia, a do nazista, a do racista) ainda é na Papuda, sr Michel, e o que Israel, e não o Hamas, promoveu em Gaza foram mortes. Como médico, eu ainda creio na realidade, na objetividade, na ”verdade”, na concretude de tudo, e em especial da morte. Como ser moral eu lhe digo, do alto da minha ignorância não acadêmica: o que Israel promoveu, e o povo de Gaza não fez o mesmo ato, é “errado”. Sei que o senhor dirá que tenho direito as minhas narrativas, e sei que o senhor dirá que “estou certo, na minha lógica” já que tudo pode. E me sinto feliz de entender que apenas eu tenho o direito de dizer que o senhor esta errado sobre a matança premeditada de crianças palestinas em escolas.


(1)    Sr Michel GHerman. Possui graduação em História com licenciatura em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestrado em Antropologia e Sociologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém (Israel). Atualmente é professor da UFRJ, onde coordena o Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos (NIEJ).

O Fim das Liberdades a Troco Do que?


A putinização da Candidatura  Dilma ou Beltrame será nosso ministro da Justiça

Dilma no debate da Band foi franca e direta assumindo que sim, seu projeto de reeleição é um projeto totalitário. Além de totalitário, o que esse projeto ainda pode trazer de avanços no campo social ou econômico? O projeto do sindicalismo no poder é um projeto esgotado, que já não tem mais o que contribuir. Dilma nos convida para um projeto totalitarista de cunho stalinista. E o que temos a lucrar em abrir mão de nossas liberdades democráticas, se o sindicalismo nenhum aporte poderá trazer para o que temos ai no social ou no econômico?

                Dilma propôs uma aventura totalitária de forma explícita no debate da Band. Quem votar nela, não pode se queixar depois que ela não tenha sido didática e clara no viés stalinista. Num mesmo debate ela defendeu os famigerados conselhos paralelos de participação popular, um maior controle da mídia no formato que Cristina tem imposto ao Clarin na Argentina, defendeu a brutal repressão policial aos descontentes de 2013 e da Copa, uma constituinte de reforma política controlada pela escumalha que a ela se aliou (que reforma política Renan poderia nos dar?). Ela não falou de cooptar movimentos sociais de toda ordem, seja com dinheiro ou cargos, nem em aparelhar o judiciário com jovens advogados de porta de sindicatos.

                Todos as “propostas” tomadas juntos apontam para um projeto definido de menor liberdade democrática, de um estado mais policial, no modelo de nossos mais novos aliados de BRICs, China e Rússia.              Mas Chineses e Russos ganham algo em troca de abrir mão de liberdades democráticas. As economias de ambos estão melhores dentro de uma “quase ditadura”.  Imagino que o o povo de lá aceite trocar menos democracia por mais renda. E nós, o que ganhamos em apoiar o Partido dos Trabalhadores em uma guinada Beltrame- esse nosso Putin- de repressão? O que PTMDB podem nos trazer de ganho financeiro em troca de nós, eleitores, embarcarmos juntos em um stalinismo marrom?

                Dilma deixou nossa economia e nossa indústria nacional reduzida a pó. O Brasil de Dilma é uma Cartago devastada, e seu governo semeou sal sobre nossa matriz industrial para que nada mais cresça aqui. E favoreceu o agronegócio e Katia Abreu.  Se fez ambos a soldo dos interesses do imperialismo Chinês não é de se duvidar: afinal nos tornamos os fornecedores de soja, minério, petróleo para a China, não temos indústria para competir com eles e ainda compramos os rios de quinquilharias de má qualidade de matéria plástica que eles produzem. Peitar o imperialismo yanke por vezes quer apenas dizer se submeter ao imperialismo manchu.

                O que mais um estado totalitário com Cabral de ministro da justiça pode nos oferecer que valha abrir mão de nossa tão suada democracia conquistada em décadas de lutas? Essa década petista nos mostrou claramente que o “sindicalismo” não constrói o socialismo, nem a maior autonomia dos trabalhadores. O sindicalismo é uma ideologia de curtas pretensões, quer algo muito material e pouco ambicioso, não é idealista. O sindicalismo tem o mesmo objetivo da sociedade de consumo, aumentar a renda e o consumo, mas esses valores não são os que socialmente precisamos. A pauta não atendida na década petista é a social: justamente saúde, educação e segurança pública não são ambições dos metalúrgicos que priorizam Tv de plasma, um carro, e um tênis de marca.  As pautas sociais não foram e nem serão atendidas por líderes sindicais pois não são demandas dos seus eleitores, que querem a entrada no shopping e isso lhes foi dado. E ganho real de renda não traz, e não trouxe, mais justiça social, apenas mais lucro pro Itau (essa Neca deve ser meio mal vista pela família em querer a saída do seu maior aliado do poder, que tanto lucro trouxe pro Itau! ) e mais lucro para as casas Bahias. E pros industriais chineses.

                O sindicalismo é portanto uma pauta esgotada. Já não há mais avanços ou o que esperar dele. Não se espera com esse curriculum de desinteresse de 12 anos com o SUS, que o sindicalismo seja o caminho da implementação no Brasil uma medicina do padrão da Cuba ou da inglesa. Se o desejo são ganhos em saúde e educação, não precisamos de totalitarismo sindical para isso. E se era para aumentar a renda, o que é um mérito, uma década já foi suficiente. Se era para demolir a indústria, e anarquizar a economia, também. Meu argumento: não se negocia com terrorista, não se vota em propostas de diminuição de liberdades democráticas, muito menos se não existe nenhuma sedução econômica ou social que justifique um governo “forte”.  

terça-feira, 14 de outubro de 2014

um ilícito que se sonha junto é uma reeleição consagradora


Uma questão que não encontra explicação fácil é como que evidências mais ou menos prováveis de corrupção do governo Dilma não afetam os índices de popularidade e de intenção de voto do continuísmo. O eleitor estaria curado de espantos, não mais levaria em consideração a moralidade? Os oposicionistas também roubam e portanto a corrupção do governo não é um tema que deveríamos prestar a atenção?
                Sob forma de ironia, o jornalista Fred Navarro se perguntava se divulgar um novo ilícito do governo petista não aumentaria a sua popularidade. E pensando sem ironia, acaso não seria possível de fato que o mal estivesse aumentando a popularidade do governismo?
                Pensando em coisas assim, fui na feira de domingo e lá encontrei carros estacionados sobre a calçada. A população, de forma muito resignada, se adaptava muito bem ao “pequeno” ilícito. Na verdade, ninguém nem via que estacionar na calçada é um ilícito. E como é que no nosso meio somos tão tolerantes com o erro, mesmo os malfeitos em que nós somos vítimas? Tirei a foto abaixo da cena dos carros na calçada e da população convivendo numa boa com o “estorvo que todos nos resignamos”.
                E como é a nossa resignação essa? Uma hipótese é que um ilícito que se pratica junto não é um ilícito, é uma nação. Num país que todos temos uma relação de identidade com o ilícito, temos mais dificuldade em recriminar o ilícito dos outros, pois vemos positivamente nosso próprio ilícito. Muitos cruzamos o sinal vermelho, ou colocamos o carro na calçada se preciso. Muitos colocamos menos moedas no parquímetro que o tempo que sabemos que vamos usar. E em uma nação fundada no ilícito coletivo, como jogar a primeira pedra?
                Nossa resignação com o ilícito chega próxima da admiração? Sim, nós brasileiros não acreditamos no coletivo, no contrato social. O que é adequado, dada nossa história escravocrata e barbaramente exploratória. O social é o lobo do homem, pelo menos do homem brasileiro. E sacanear o coletivo é um heroísmo, não um opróbio. Na Alemanha, o cidadão preza e defende o estado e o coletivo. Também pudera, o cidadão deve muito e recebeu muito do estado e do coletivo e do contrato social. No Brasil não. Roubar, em especial do Estado vilão é um favor, pois o Estado é o vilão.
                E é por coisas assim que acho que Fred Navarro está correto quando diz que roubando o Estado, o político cresce aos olhos do povo, como um Robin Hood que realizou o sonho coletivo de todos, que todos tem direto de querer, de ganhar na loteria. Quem recrimina Dilma pelos malfeitos é um ciumento.
                Um segundo motivo para o ilícito pegar tão bem no Brasil é que ele é pareado com libido pelo eleitor médio. E a libido é um tema muito popular por aqui. Recriminar o roubo é moralismo, quase que de uma igreja falsamente moralista com a libido de todos. De fato, tanto a libido quando o roubo lidam com transcender o manifesto da ordem social para explicitar algo mais importante, e escondido,  no caso da corrupção a ganância, no caso da libido o tesão. O Brasileiro não vê muito problema em explicitar seus desejos. E de fato, não existe muito problema em um político deixar claro que esta aí para roubar. Isso não queima sua reputação com eleitor médio que pensa: eu também já fui a um motel sendo casado, quem sou eu pra recriminar uma Pasadena de nada? E a postura do governo de não falar sobre o tema combina com esse princípio: o que uma presidenta faz entre quatro paredes com o dinheiro público é assunto exclusivamente da moral dela, não cabe dar explicações sobre o que é íntimo.
                Quando um presidente, e estamos falando de presidentes petistas, que fundaram essa tradição, diz que “não sabia”, novamente é no campo da libido que devemos buscar perdoa-los. Se por ingenuidade, sem ter a mínima noção que o sedutor iria não cumprir sua palavra de colocar só a pontinha, a presidenta do conselho foi induzida ao erro, ela tem que ser perdoada. Pois ingenuamente a usaram. Toda a castidade volta a se configurar entre os ingênuos. Uma conjunção carnal, em que um participante “não sabia” , é uma conjunção sem culpa, pois sem desejos sacanas por parte do trepante. E o brasileiro entende que quem não sabia, não desejava, não pecou.
                Assim que chegamos ao segundo turno oficializando nossa anuência com os malfeitos, que tão mais malfeitos serão agora feitos com a legitimidade do povo, seja pois não vemos o ilícito, nos identificamos com o bandido, detestamos as jóias da viúva, somos todos meio safadinhos, meio Ze´Cariocas, e naõ estamos aqui para recriminar ninguém que fez um deslize engando por um sedutor habilidoso.

                

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