sexta-feira, 19 de maio de 2017

Cultura da honra, cultura da dignidade, cultura da vitimização



Pela volta do conceito de honra

Aprendeu a desconfiar desde jovem daqueles que pretendiam ter o monopólio da posição de "vítimas". Que década complicada na latino-américa, pois o vitimismo tomara o poder, com suas denúncias, deputados recorrendo o país com o esqueleto de Jango em comícios e outras estranhas formas de dar voz política ao "eu sofro" como análogo narcisista. o "eu sofro" como commodity, minha dor um Palmolive....Não é apenas que eu sofra, é “que olhem o TAMANHO da minha dor!” Ai que saudades daquele tempo em que política não era pra vítimas, nem denuncismos, mas era o tempo pra "honra", ou pelo menos pra "dignidade"! Lembram? lembram de Brizola na sacada do Piratini com uma metralhadora dizendo que não passarão? Não esse bando de macacões de fábricas borrados nos bancos frios da chefatura de Pinhais....Sindicalistas materialistas, blegues, que década infeliz e sem honra!
O século que agora inicia vem com essa cultura da vitimização (conceito de Campbell e Manning). O bom de denunciar é que é um ato de purificação. Não apenas meu objeto fica coberto de monopólio dos impulsos agressivos, é que me purifico, fico eu o denunciante distituido de qualquer propósito agressivo. Se o inferno são os outros, é quase análogo de eu sou um céu.
E por esse processo de canonização das vítimas, temos índios quase como categorias sacralizadas. Esse funcionamento de categorias é infenso ao conceito de pós modernidade de simultaneidades: um índio injustiçado bem pode ser pedófilo, um negro pode ser ávaro, ou ter mal hálito,  um homosexual pode ser de direita, um idoso pode ser um Pinochet e ter matado centenas de milhares, uma criança pode ser cruel, um ciclista pode desobedecer as normas do trânsito. Mas na cultura da sacrilização das minorias, isso não se imagina, pois não apenas o denunciador vitimizado tem o monopólio do sofrimento, como ainda é uma categoria absoluta, como Cristo. Ou alguém imagina Cristo com mal hálito, ou desobedecendo uma regra de trânsito da Galiléia?
Outro dia entrei em um onibus de uma empresa pública da prefeitura de Porto Alegre: não havia bancos para as pessoas. Todos os bancos eram reservados para as mais de centenas de categorias de vítimas, que inclusive, muitas não pagavam. Acontece que uma empresa em que ninguém pague pela passagem é economicamente inviável. E procurando bem, qualquer um é vítima em algum quesito. O empoderamento de todos os denuncismos fez essa sociedade uma coisa inviável. Exatamente como dizia Mao: se cada chinês for ter uma automóvel, o que é justo, tornaria a cidade chinesa algo impossível. Hoje todos temos ar condicionado, o que inviabiliza o planeta, ainda que seja absolutamente justo. O direito pra todos é correto, apenas inviável. 


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