Pela volta do conceito de honra
Aprendeu a desconfiar desde jovem daqueles que
pretendiam ter o monopólio da posição de "vítimas". Que década
complicada na latino-américa, pois o vitimismo tomara o poder, com suas
denúncias, deputados recorrendo o país com o esqueleto de Jango em comícios e
outras estranhas formas de dar voz política ao "eu sofro" como
análogo narcisista. o "eu sofro" como commodity, minha dor um
Palmolive....Não é apenas que eu sofra, é “que olhem o TAMANHO da minha dor!” Ai
que saudades daquele tempo em que política não era pra vítimas, nem
denuncismos, mas era o tempo pra "honra", ou pelo menos pra
"dignidade"! Lembram? lembram de Brizola na sacada do Piratini com
uma metralhadora dizendo que não passarão? Não esse bando de macacões de
fábricas borrados nos bancos frios da chefatura de Pinhais....Sindicalistas
materialistas, blegues, que década infeliz e sem honra!
O século que agora inicia vem com essa cultura da
vitimização (conceito de Campbell e Manning). O bom de denunciar é que é um ato
de purificação. Não apenas meu objeto fica coberto de monopólio dos impulsos
agressivos, é que me purifico, fico eu o denunciante distituido de qualquer
propósito agressivo. Se o inferno são os outros, é quase análogo de eu sou um
céu.
E por esse processo de canonização das vítimas,
temos índios quase como categorias sacralizadas. Esse funcionamento de
categorias é infenso ao conceito de pós modernidade de simultaneidades: um
índio injustiçado bem pode ser pedófilo, um negro pode ser ávaro, ou ter mal
hálito, um homosexual pode ser de
direita, um idoso pode ser um Pinochet e ter matado centenas de milhares, uma
criança pode ser cruel, um ciclista pode desobedecer as normas do trânsito. Mas
na cultura da sacrilização das minorias, isso não se imagina, pois não apenas o
denunciador vitimizado tem o monopólio do sofrimento, como ainda é uma
categoria absoluta, como Cristo. Ou alguém imagina Cristo com mal hálito, ou
desobedecendo uma regra de trânsito da Galiléia?
Outro dia entrei em um onibus de uma empresa
pública da prefeitura de Porto Alegre: não havia bancos para as pessoas. Todos
os bancos eram reservados para as mais de centenas de categorias de vítimas,
que inclusive, muitas não pagavam. Acontece que uma empresa em que ninguém
pague pela passagem é economicamente inviável. E procurando bem, qualquer um é
vítima em algum quesito. O empoderamento de todos os denuncismos fez essa
sociedade uma coisa inviável. Exatamente como dizia Mao: se cada chinês for ter
uma automóvel, o que é justo, tornaria a cidade chinesa algo impossível. Hoje
todos temos ar condicionado, o que inviabiliza o planeta, ainda que seja
absolutamente justo. O direito pra todos é correto, apenas inviável.
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