Uma camiseta lacoste, custa um terço a camiseta e dois terços o jacaré. De um hipotético R$ 150 reais de “valor”, temos portanto uma maior parte de marca, grife ou conceito, e uma menor parte de custo “mesmo”. E a historia deste produto é assim feita: o conceito é francês e popularizado nos Estados Unidos, o produto é feito em Taiwan e na China e quem paga por ele, neste tempos de subida econômica dos BRICS, somos nós, os brasileiros (entre outros). Os últimos resultados divulgados pela empresa mostram que o país é um mercado-chave. Enquanto em 2009 o faturamento global da companhia caiu 2% no mundo, aqui houve um crescimento de 60%, totalizando R$ 100 milhões (http://www.portaldebranding.com/v1/?p=2335).
O caso da camiseta lacoste ilustra três aspectos importantes: o primeiro, é a posição de consumidor a que estamos relegados no novo ordenamento econômico, não de produtores de conceito. O segundo aspecto, saindo da situação brasileira e de abrangência mundial, é a importância em dinheiro que pagamos pela ostentação (mais em sociedades “novas ricas”, mas não exclusivamente). O terceiro, que irmana classes no Brasil e sociedades no mundo, diz respeito a futilidade de nossa existência, quando o consumo nos irmana a todos em uma falta de sentido moral.
O Brasil não produziu uma camiseta lacoste “desejada” pelo resto do mundo, como também não produz nem esta construído a possibilidade de produzir ciência e tecnologia, inovação cultural ou um Nobel da paz. Nossos anos de petismo real nos levaram apenas ao aumento do poder de consumo de imensas massas, vorazes por uma camiseta lacoste. E nem é do escopo aqui discutir que – por ostentação- serve uma “cópia” chinesa. Suponhamos que desejamos a legítima, como de fato desejamos e pagamos. Esse é o legado do governo Lula, a possibilidade de um número maior de pessoas consumirem uma camisa lacoste, cuja o dividendo rende dinheiro um pouco (e bem pouco) na Ásia, e um percentual maior na França. Dos R$ 100 reais que não são de algodão, por uma idéia, brasileiros pagam muito. O tema é o da ilusão: trocamos dinheiro bom, sólido, por um conceito etéreo, por uma alegria infantil, por uma capricho engraçado: o cenário em tudo lembra a fábula do índio que entrega Pau Brasil (um bem de valor) por um pente de matéria plástica, ou por espelhinho. Suponho que alguém na França ache isso tudo muito cômico.
Um pais que não tenha investimento em cultura, ciência e tecnologia, não se sustenta rico. O desmonte do apetite chinês por soja, petróleo e minério de ferro, nos devolveria nossa exata dimensão: um povo de iletrados consumistas, de incultos em euforia de consumo. Uma parcela não desprezível acostumada com os favores do estado, sem qualquer valor agregado a oferecer ao mundo. Riqueza não é – que nos desculpem os sociólogos que fazem senso- um conjunto de eletrodomésticos , nem o número de banheiros de uma casa que – por não ter alicerces, ou ser construídas em um despenhadeiro desmatado (e grilado)- cai na primeira chuva.
O custo de uma marca é um aspecto importante de quase tudo na indústria atual, em que preço se descolou de custo de produção e mais pequena margem de lucro. Seja na compra de um carro, de um filme de cinema, de um produto farmacêutico, o preço é pagamento de idéias, e também a criação de um desejo no consumidor. O fato que muito do que pagamos não é “custo”, nos faz a todos (consumidores) um pouco idiotas, enganados, e cúmplices da enganação. Sabemos que a camisa é - em boa parte-logomarca, e seguramente é por isso mesmo que corremos para ter uma, como que afirmando para os demais: eu tenho tanto que até o triplo posso pagar por um jacaré. Se virmos o que de “plus” entregamos de trabalho real e valioso por ilusão, ficaríamos nos sentido uns chipanzés da ostentação: quanto de consultas médicas reais, existentes, entrego para uma revenda de automóvel para flanar pela cidade com determinado modelo alemão, americano ou italiano que é marca (uma inexistência, um conceito)? Quanto de soja, de labuta, de trabalho real, vira nada na ciranda que se justifica pela ostentação?
Acreditar na ostentação tem seu preço. O problema que nós brasileiros não estamos sós neste catecismo. O mundo globalizado avança (?) em grande parte por esta lógica. Todas as nações e povos diferentes, estão rezando pelo catecismo este das marcas, do consumo e de pagar mais pelas coisas do que deveriam. No exemplo (hipotético, ou inexato em números) da camiseta lacoste, dois terço da economia é nada, ou não é algodão. Seria curisoso pensar, se fosse possível: quantos porcento da atividade econômica no mundo é besteira? Existe atividade para vestir, para morar, para alimentar: sabemos que existe economia – para nosso uso aqui – “real”. MAs o quanto é real, o quanto é fantasia, desnecessidade, besteira, ilusão? Sempre é importante produzir um antiretroviral, mas a discussão de qual é o custo e qual é a margem de um remédio deste esta bem clara para todos que acompanhamos a luta de Bil Clinton para compor o preço deste fármacos na ajuda a Africa.
Podemos dizer que 70% da economia no mundo é besteira? Comporia este cálculo as marcas (no caso da lacoste, 66% seria marca/besteira), a ganância ( o tanto do preço de um fármaco que não é pesquisa cientifica, é jogo de poder), a ostentação (o meu carro que faz 7 Km por litro), ou o conforto (toda a cadeia que produz eletrecidade e ar condicionado para refrigerar um shoping, uma repartição pública, um banco privado). E neste sentido moral, sra ministra da pesca Ideli Salvati, estaria justificada uma hidroelétrica como a do rio Pelotas (que sabemos como a senhora –ao arrepio da justiça- fez continuar a obra embargada), que tanto mal fez justamente para a rota de peixes migratórios, ser imposta contra a opinião do Ibama apenas para sustentar um ar condicionado de shoping toda tarde? Quem arbitra esta “necessidade” da hidroelétrica, é peixe ou é um consumidor deslumbrado e semi-alfabetizado, sem plano de saúde, sem qualquer idéia na cabeça que faça diferença na orquestração das nações, em busca de uma camisa lacoste?
Podemos dizer que 70% da economia no mundo é besteira? Comporia este cálculo as marcas (no caso da lacoste, 66% seria marca/besteira), a ganância ( o tanto do preço de um fármaco que não é pesquisa cientifica, é jogo de poder), a ostentação (o meu carro que faz 7 Km por litro), ou o conforto (toda a cadeia que produz eletrecidade e ar condicionado para refrigerar um shoping, uma repartição pública, um banco privado). E neste sentido moral, sra ministra da pesca Ideli Salvati, estaria justificada uma hidroelétrica como a do rio Pelotas (que sabemos como a senhora –ao arrepio da justiça- fez continuar a obra embargada), que tanto mal fez justamente para a rota de peixes migratórios, ser imposta contra a opinião do Ibama apenas para sustentar um ar condicionado de shoping toda tarde? Quem arbitra esta “necessidade” da hidroelétrica, é peixe ou é um consumidor deslumbrado e semi-alfabetizado, sem plano de saúde, sem qualquer idéia na cabeça que faça diferença na orquestração das nações, em busca de uma camisa lacoste?
Não há sentido moral em muito do que é econômico, em muito do que fazemos. E moral não é apenas ecologia, ainda que principalmente o seja. Boa parte da atividade mundial gira em torno de desnecessidades, muito do trabalho vai para concentração de renda, pouco sentido há em muito do que fazemos. Se desejar uma camiseta no valor três vezes maior é errado, e pagar um terço por ela é o certo, então estamos apenas com 33% de sentido em nossa existência pessoal e coletiva. Muito do que fazemos, portanto, é fútil e sem necessidade, ou sentido. Coletivamente estamos embarcados em um projeto fútil, que seria apenas cômico se não estivesse exaurindo o planeta. Destruir o rio Pelotas, peixes e florestas, para manter as luminárias de um shoping sempre acesas é uma falta de valor, um problema ético, um crime bem ao gosto da Dilma e Lula. Só se justifica pela lógica da meta de aumentar 60% a venda de camisetas lacoste. E MArina pra presidente não mudaria esse problema do consumo sem fundamento, acho que só o Plinio de Arruda Sampaio nos redimiria desta insensatez que acreditamos sem pensar, o shoping imenso que virou o Brasil.
Concordo plenamente. Até escrevi algo a respeito, há algum tempo:
ResponderExcluirhttp://rexcogitans.blogspot.com/2009/03/economia-e-cultura-producao-e.html