Por quem as árvores choram?
Muitas pessoas
em Porto Alegre tem o desejo de vir de forma fluida para o centro em seu carro
particular, encontrar estacionamento abundande, e portanto barato, e voltar no
final do dia para o bairro sem tranqueiras de trânsito. Estas pessoas são do
partido da derrubada de árvores pelo progresso, do alargamento indefinido de
avenidas, e do prefeito José Fortunati. O desejo é legítimo, só que irrealista,
impossível de ser atendido.
Existe
um cenário de saturação de carros na cidade e o ponto de saturação já chegou.
Não há mais como remediar, agora é o ponto de não dá mais. É mentira do
prefeito fazer remendos viários para seguir atendendo o desejo de vir de carro
para o centro. Na verdade, satisfazer esse desejo irrealista, é uma
irresponsabilidade e uma mentira.
Estamos
num ponto de esgotamento do modelo: do modelo do transporte particular para ir
ao centro. O necessário é exatamente o contrário: frustrar esse desejo. Proibir
estacionamento no centro, proibir todos os carros de circular no centro
expandido, ou pelo menos alguns finais de placas, como em São Paulo. Como em
Londres, mudar mesmo o planejamento urbano para tirar do centro atrativos
profissionais e comerciais, levando esses atrativos para os bairros.
Precisamos
de outros modelos para circular dentro do centro: trens circulares, veículos
elétricos públicos. Transporte em bicicleta ou mesmo em cavalos no centro. Para
se chegar ao centro, transporte público de qualidade, que inclusive já existe,
sendo as lotações um exemplo de conforto e rapidez.
O
estado não esta aí apenas para satisfazer desejos irresponsáveis e egoístas dos
eleitores. Está também para por limites no que é um desejo irresponsável,
inviável. Um pai que quer apenas ser popular não dá limites para os filhos, em
particular para seus desejos mais arriscados e destrutíveis. Mais do modelo de carros particulares é um
desejo dos eleitores que não deve e não tem como ser satisfeito. Faltou a José
Fortunati a coragem de dizer a verdade para os ricos mimados. Por interesse
eleitoral? Sem dúvida.
O
ponto não é idealistas românticos que defendem árvores de forma poética. O
ponto é que os práticos e progressistas estão completamente equivocados, e
aprisionados em seu conforto do carro, se negam a ver a inviabilidade e a
irrealidade de seu desejo de conforto. Pois ficar preso no engarrafamento não é
conforto, ainda mais sem uma árvore para proteger do sol forte. No
engarrafamento, toda a cilindrada é igual, e o pior: igual a zero!