Foto Michal Cortez em Sul21
“Não me tirem meu chambinho, exijo um smartphone bom, um
colégio fraco e quero fumar maconha: e polícia, vai tomar no cu”
As coisas são
muitas vezes exatamente o que parecem ser. Portanto não precisamos ver
explicações ocultas, grupos que manobram, influências da CIA na política
nacional, ação da Abin em saques para queimar o movimento insurgente em curso
no país. Antes de conspiração da direita, do que ingenuidade dos jovens, o que
as fontes primárias ( o que escreve e diz o jovem mesmo) falam do significado
do seu movimento.
Em
primeiro lugar o elenco dos alvos, o que é de uma constância didática e clara:
são os inimigos, em Porto Alegre os políticos, mais do âmbito municipais que
dos demais âmbitos. Os vereadores e o prefeito são mesmo alvos que todos
concordam. O governador e a Dilma? Também, mas menos. A concentração é sempre
diante da prefeitura, não do apartamento da Dilma em Porto Alegre, nem do
palácio Piratini.
Os
partidos? Sim, mas apenas mais recentemente, em particular na manifestação do
dia 20, mas não nas anteriores. No dia 20 há o contexto dos partidos quererem
se “colar” para obterem dividendos, o que convenhamos, os jovens estão certos:
é muito irritante. Em particular o PT. O PT não pode esquecer de que a pedra
virou vidraça, em dez anos de governo. Seus membros são sexagenários, é natural
que não representem mais os impulsos de pessoas com menos de 20. Exatamente
como acontecia quando estes mesmos petistas hoje “no sistema”, tinham seus
vinte anos. Pode ser repulsivo para um membro do petismo perceber, mas hoje
eles são os “odiosos neo-liberais, os FHCs” desses jovens. E daí? Os jovens são
“de direita” pois os petistas deixaram de ser jovens e progressistas? Não
sejamos injustos, temos que escutar o que os espelhos ( e nossos DNI ) nos
gritam todos os dias. E as ruas também.
Que
outros “inimigos” os jovens elegeram, de forma bem clara? Afora o poder
municipal, o PT quando quer se passar por pedra sendo vidraça, que outros
inimigos? uma lista que seja inclusiva seria a seguinte. A) a imprensa, em
particular a monopolista no Rio Grande. B) os empresários de ônibus, e seu
conluio óbvio com o poder público e com parte do judiciário. C) A polícia, em
especial a truculenta. D) o automóvel, e sua força política de tomar o trânsito
e E) alguns bancos. F) A copa e os serviços públicos, em especial os sociais, e
aqui o governo federal. G) a falsa promessa de redenção social na mão de líderes, que foi uma decepção em dez
anos do PT. H) alguma porção do movimento contempla temas da neo-política
(Alimentação vegetariana, uso de bicicletas, algo de ecologia e um tanto de
temas da sexualidade não heterosexual). Mas estes já não seriam temas centrais.
Os jovens possuem linguagem e demandas pós-modernas. O sistema, ainda que se pretenda uma renovação (sim, é curioso, mas o sistema de fato acredita que mudou o país nestes 10 anos), é uma renovação com pautas não pós-moderna, ou, com risco de imprecisão, com pautas modernas (no sentido de opostas ao pós-moderno).
Curiosamente os jovens não tem bronca com a igreja, nem com os ultra-ortodoxos fundamentalistas da cura gay. Poupam os ricos, seus carrões de mais de cem mil reais. Calam diante do crack, do poder criminal e de terror dos traficantes, da violência urbana. Evidentemente são coniventes do poder de gerar dependência química da maconha, fato que inclusive negam. Nenhum jovem se incomoda com o consumismo, os shoppings, nenhum macDonads depredado, nenhum mal estar com americanos, nem com chineses (provavelmente os maiores responsáveis pela decadência da economia atual no nosso país) nem com o monopólio da soja sobre a política, a desindustrialização. Não querem saber de política internacional ( o Itamaraty parece ter sido mais um alvo fácil que específico, ainda que sua posição na Síria e na Líbia, tenha merecido pelo menos um ovo). Pouco olham para especulação imobiliária que passou a financiar a política municipal. Os jovens não quebraram nada dos ricos do país, bastante favorecidos e coniventes com o sistema.
Os jovens possuem linguagem e demandas pós-modernas. O sistema, ainda que se pretenda uma renovação (sim, é curioso, mas o sistema de fato acredita que mudou o país nestes 10 anos), é uma renovação com pautas não pós-moderna, ou, com risco de imprecisão, com pautas modernas (no sentido de opostas ao pós-moderno).
Curiosamente os jovens não tem bronca com a igreja, nem com os ultra-ortodoxos fundamentalistas da cura gay. Poupam os ricos, seus carrões de mais de cem mil reais. Calam diante do crack, do poder criminal e de terror dos traficantes, da violência urbana. Evidentemente são coniventes do poder de gerar dependência química da maconha, fato que inclusive negam. Nenhum jovem se incomoda com o consumismo, os shoppings, nenhum macDonads depredado, nenhum mal estar com americanos, nem com chineses (provavelmente os maiores responsáveis pela decadência da economia atual no nosso país) nem com o monopólio da soja sobre a política, a desindustrialização. Não querem saber de política internacional ( o Itamaraty parece ter sido mais um alvo fácil que específico, ainda que sua posição na Síria e na Líbia, tenha merecido pelo menos um ovo). Pouco olham para especulação imobiliária que passou a financiar a política municipal. Os jovens não quebraram nada dos ricos do país, bastante favorecidos e coniventes com o sistema.
De
aliado do movimento, ou temas que os jovens são favoráveis, apenas as redes
sociais. Ou, buscando o mínimo denominador que seja comum a todos os
envolvidos, o ponto que simultâneamente a maioria se encontra. Este movimento é o primeiro nacional do mais
novo poder (o quinto, ou sexto, não sei bem), o facebook, twitter e instagram.
Assim,
acredito que o movimento (e faço o estudo de caso só de Porto Alegre, pois
sabemos o quanto RJ e muito mais ainda SP, é sempre outra coisa) não é um
movimento que tenha dificuldades de identidade. Sabe exatamente o que odeia.
Cala para uma porção de mazelas do país. Acho que o movimento nos diz mais
sobre o que não denuncia, do que sobre o que denuncia. O movimento nada fala
contra as drogas, o que é lamentável. É um “movimento por hospitais”, mas me
parece muito mais para achar um sentido pra si, pois na verdade, dos inimigos
enumerados, o mais irritante é a polícia.
Jovem
não gosta de ser contrariado. Ainda mais este nosso, criando como filho único e
acostumado a um poder no microcosmos da família que não inclui frequentemente
lidar com o não. Os país destes moços fizeram de tudo para dar tudo para eles.
E eles tem tudo, graças ao governo petistas que abandonou os pregressos sociais
de escola e hospitais para dar ao jovem estádios e shoppings. O Lula também mimou
a meninada: com um escola meia boca que não precisa estudar, jovem não precisa
de hospital, deu a eles um telefone com rede social e doses altas de hedonismo,
em parte graças ao milagre de produtos chineses baratos. Os meninos vinagres
foram criados com yogurte e pouco estudo. Inclusive pois não vale a pena: salários de mais graduados caiu 8% e de quem não estudou tanto subiu 32% nos ultimos 10 anos. O que essa moçada nunca ouviu falar foi a palavra
inflação, comedimento, falta. Viveram como novos ricos. Mas o que o FHC curou
no Brasil, os petistas negligenciaram, e a inflação voltou. Subiram os preços
das passagens! E dos tomates! O medo de ser expulso do shopping chinês e do
smartphone aditivo não é irreal, é bastante concreto. Quem não tem grana não
participa da festa dos shoppings e do consumismo. A alta dos preços lembrou a
meninada de quem eles são filhos: de pessoas mais empobrecidas, e de que é bem
possível que eles tenham que abrir mão do mimo exagerado do consumismo.
O
grito desta meninada é bem óbvio, e esta de fato desconectado de bandeiras de
esquerda, sendo resumido no seguinte: “nem pensem em me tirar o meu chambinho”.
“queremos transporte público mais lento para que possamos tuitar nas viagens”.
O que os moços querem é óbvio: querem seguir podendo ser sócios dos shoppings.
E Dilma já sabe que daqui pra frente, esse eldorado de pequenos desejos de
consumo, esta cada vez mais ameaçado? Os vinagres sabem.